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Filosofia

Dimensões do Diálogo!

No princípio do século XVI, o maior poeta italiano Ludovico Ariosto imaginou que somente na Lua se encontrava tudo que se perdia na Terra

Raul Tartarotti

Raul TartarottiCrônicas Semanais

02/06/2025 23h01
Por: Fernando Gadret
Fonte: Raul Tartarotti

No princípio do século XVI, o maior poeta italiano Ludovico Ariosto imaginou que somente na Lua se encontrava tudo que se perdia na Terra. Como as lágrimas e os suspiros dos amantes, o tempo desperdiçado no jogo os projetos inúteis e os anseios insatisfeitos. 
Ele pensava assim devido à impossibilidade da viagem a lua naquela época, e associava aos atos distantes de suas mãos, para explicar a dificuldade na solução daquele cotidiano dolorido. 
De certa forma não acho ruim a ideia de Ariosto para aquele século, porém, hoje, se faz necessário lutar quase pelo impossível.

(Constituendum est quid velimus et in eo perseverandum): "É preciso definir o que queremos e perseverar nisso", e não jogar a responsabilidade ao infinito para esvaziar nossas dores e se livrar de uma responsabilidade única.
Até mesmo um aspecto de sua vida, que pareceu mais ingênuo, pode preservar uma carga poética e uma riqueza de imaginação únicos, que tornariam o encantamento dessa época ainda maior no futuro. 
Por isso, todos os momentos tem seu romantismo e valor muito humanos, que merecem uma foto em nosso álbum neural, onde está desenhada uma árvore genealógica dos acontecimentos de nossas vidas. 
Esse organismo vivo, que é o nosso passado, surge sempre que desejamos lembrar saudosamente de atos virtuosos que nos fizeram mais gente, como sempre se espera em sociedades saudáveis.

Os pensamentos fictícios futuristas não podem desalinhar nossos planos no presente porque a vida pulsa nesse instante, e o ar pode contaminar ou servir de pulsão para seus passos logo a frente.

Como o artista checo Jan Svankmajer 
mostrou em seu curta-metragem 
"Dimensões do Diálogo", que em tempos difíceis de trocas de ideias, duas cabeças se consomem mutuamente e travam uma relação pessoal, interpretadas com hierarquia, etnia, religião, etc. 
Ao longo do tempo as diferenças vão sumindo e todos vão ficando mais humanos. Nos servindo como crítica ao extermínio de culturas e exaltação da construção de uma identidade. 
Através do Diálogo Objetivo, o Diálogo Apaixonado, e o Diálogo Exaustivo, ele mostra cabeças semelhantes a símbolos, reduzindo-se gradualmente as cópias insípidas; mostra um homem e uma mulher de barro que se dissolvem sexualmente. Brigam e se reduzem a uma polpa frenética e fervente. 
Se tornando em duas cabeças de barro idosas que extrudam vários objetos em suas línguas, em suas vidas, suas entranhas, até se consumirem