A Casa de Cultura Mario Quintana, instituição da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), promove, em dezembro, as últimas atividades vinculadas ao projeto Cultura no Antropoceno. O ciclo de eventos busca debater a produção cultural no momento geológico do planeta em que o ser humano e seus feitos são entendidos como força capaz de provocar alterações no clima. Neste mês, duas conferências e uma mesa-redonda acontecem em diferentes espaços da CCMQ, além de uma ação artística nas redes sociais. Todos os eventos têm entrada gratuita, sem necessidade de inscrições prévias.
O encerramento do Cultura no Antropoceno acontece no Teatro Bruno Kiefer (6° andar da CCMQ) no dia 13/12, sexta-feira, às 19h. O evento será uma conferência com o premiado escritor indígena, do povo Tapuia, Kaká Werá. Na ocasião, ele apresentará a palestra O Tekoá e o Bem-Viver: um caminho para a sustentabilidade no Antropoceno que, partindo da filosofia indígena do tekoá – “lugar do bem-viver” –, propõe um resgate de valores ancestrais de equilíbrio entre as relações humanas e o mundo natural, como alternativa ao modelo de crescimento e exploração exacerbada. A mediação da conferência será da antropóloga e pedagoga Rosani Fernandes.
Segundo Werá, a sabedoria ancestral dos povos indígenas, embora muitas vezes marginalizada, revela-se uma força vital para o enfrentamento dos desafios advindos do desequilíbrio da cultura do consumo, que gerou a crise climática. “Ao olharmos para o passado, para as raízes de nossos antepassados”, defende o autor, “podemos encontrar não apenas um relicário, mas um guia para transformar o presente, adotando uma visão de mundo mais compassiva e sustentável diante da crise do Antropoceno.”
Segundo a Gestora Cultural da CCMQ, Ana Cristina Steffen, a conferência encerra o projeto, mas não o debate sobre essas temáticas. “O Cultura no Antropoceno foi pensado em um momento após os acontecimentos que atingiram o estado em maio de 2024. Sustentabilidade e emergência climática já eram pautas de reflexão na CCMQ antes disso, e devem permanecer em projetos futuros. Entendemos ser esse também o papel da cultura e da Casa de Cultura: estimular o debate acerca desses temas”.
Nas duas primeiras semanas do mês, acontecem outros dois encontros que refletem diretamente sobre a emergência climática. Na quarta-feira, 04/12, às 19h, no Auditório Luis Cosme (4° andar da CCMQ), a arquiteta e doutora em filosofia Rita Velloso, professora da UFMG, irá proferir a conferência intitulada Cosmópolis: Metamétodo. No formato de conversa filosófica sobre estudos urbanos, Velloso buscará debater modos de superar a intensificação das mudanças climáticas e refletir sobre seus impactos sociais.
“O atual momento histórico está marcado por um conjunto de crises, estruturais, gerais e globais, em variadas escalas e dimensões, que configuram uma efetiva crise civilizatória”, aponta a conferencista. “ A superação demandará esforços continuados e articulados do poder público, de empresas, de organismos multilaterais, da academia, da sociedade civil organizada, de indivíduos, de sindicatos e partidos, da imprensa, da ciência e da tecnologia, do pensamento crítico, das artes e da literatura.”, afirma Velloso.
A última das três mesas-redondas do Cultura no Antropoceno acontece no dia 12/12, quinta-feira, às 19h, no auditório Luis Cosme. Com mediação do arquiteto e urbanista Paulo Reyes, o encontro, intitulado A cidade e a emergência ambiental, busca articular possibilidades de continuidade e de transformação da vida nas cidades a partir da crise climática. Para isso, ele contará com a presença do geólogo Rualdo Menegat, que apresenta a fala Pandemia do território e emergência climática no RS: já estamos no Antropoceno?, e as arquitetas e urbanistas Eugenia Kuhn e Heleniza Campos, que apresentam, respectivamente, A agenda ambiental urbana em tempos de emergência climática e Transições e Emergências na Cidade Contemporânea: tempos de planejamento?.
Germana Konrath, diretora da CCMQ, aponta para a importância de encerrar o evento discutindo a relação entre o humano e a cidade, o espaço urbano e as questões climáticas: “A gente encerra esse ciclo de atividades do Cultura no Antropoceno justamente falando sobre a maneira como vivemos na cidade, provocados, é claro, pelos eventos climáticos extremos, mas também entendendo outras possíveis relações a partir do planejamento urbano”. Konrath ressalta a importância de pensar na ideia de uma arquitetura em que o ser humano não seja sempre o protagonista. “Precisamos refletir sobre a ideia do ser humano não ser sempre o interventor, que constrói de maneira invasiva, mas alguém que possa dialogar, coexistir e transformar o que está posto a partir de outras relações com a natureza, diferente do que tradicionalmente vemos em termos de arquitetura e urbanismo.”, completa.
Além disso, nas redes sociais da CCMQ, a última das ações artísticas do projeto será composta por ilustrações de autoria da quadrinista e arquiteta Ana Luiza Koehler, apresentando o espaço onde se localiza a Casa de Cultura em diferentes tempos, incluindo um futuro especulativo.
O projeto Cultura no Antropoceno teve início em setembro e vem promovendo atividades gratuitas em diversos espaços da Casa de Cultura, como sessões de curtas metragens em parceria com o projeto Tela Indígena, mesas-redondas e debates que apresentaram pesquisas acadêmicas e artísticas relacionados ao tema, além de oficinas, performances e ações nas redes sociais.
A curadoria e organização são de Germana Konrath, diretora da CCMQ, Ana Cristina Steffen, gestora cultural da CCMQ, e da pesquisadora Taís Cardoso.
SERVIÇO
Conferência Cosmópolis Metamétodo, com Rita Velloso
Quando: quarta-feira, 4/12
Horário: 19h
Onde: Auditório Luis Cosme, 4° andar da CCMQ (Rua dos Andradas, 736)
Mesa-redonda 3: A cidade e a emergência ambiental
Quando: quinta-feira, 12/12
Horário: 19h
Onde: Auditório Luis Cosme, 4° andar da CCMQ (Rua dos Andradas, 736)
Conferência de encerramento: O Tekoá e o Bem-Viver: um caminho para a sustentabilidade no Antropoceno, com Kaká Werá
Quando: sexta-feira, 13/12
Horário: 19h
Onde: Teatro Bruno Kiefer, 6° andar da CCMQ (Rua dos Andradas, 736)