Raul TartarottiCrônicas Semanais
Quem não vê que a fome é o melhor tempero não entende o sentido na busca em se alimentar, mesmo sabendo que seu conteúdo se encontre em um jarro de estanho de origem desconhecida.
O prazer em comer está em ter apetite, não em se fartar comendo.
Percebe-se que aqueles que mais buscam a satisfação em quase todos os momentos, são os que menos o alcançam, fundamentalmente por desejarem mais e melhor à sua mesa.
Nessa armadilha invisível aos olhos incautos pela busca incessante a qualquer custo e tempo do próximo instante de felicidade, ocupa os momentos propícios para reflexão íntima, e esvazia o aprofundamento necessário ao crescimento individual.
" Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes é necessário ser um" (Fernando Pessoa).
O imperador e filósofo Marco Aurélio (121-180 d.C.) escreveu no sétimo livro de meditações, sobre a conduta saudável do indivíduo na busca pela formação do caráter e compreensão, adequados aos acontecimentos em seu entorno, sejam eles tensos, vazios ou admiráveis. "Devemos nos concentrar no que temos, não no que falta, trate o que você não tem, como inexistente, e pense o quanto você desejaria o que tem se não os tivesse".
Não se deve apenas concluir racionalmente que a cada dia, a vida vai se consumindo e deixando atrás de si uma menor porção para ser vivida.
Por isso não gaste o resto de seus dias com ideias que dizem respeito aos outros. Desenvolva o Amor Fati (do latim, amor ao destino) que como no estoicismo, e na filosofia de Friedrich Nietzsche, é a aceitação integral da vida e do destino humano, mesmo em seus aspectos mais cruéis e doloridos, quando somente um espírito superior pode aceitar como uma fórmula para a grandeza do homem, que significa não querer nada de diferente do que é, nem no futuro, e suportar amar o que for necessário.
Procure contentar seu cérebro que é uma máquina moldada para o aprendizado, que não nos permite suportar acontecimentos rotineiros, e que por isso somos ávidos por experiências novas que surpreendam de forma agradável.
O que dá prazer acaba por fazer bem ao organismo e assim se torna importante para a sobrevivência de nossa espécie.
Uma rede de neurônios está incumbida de nos fazer buscar aquilo que nos trouxe prazer uma vez, não bloqueie essa via expressa.